Mas pedra não tem vida... Não tem respiração, nem crescimento, nem pulsação; pedra não tem movimento... Pedra é pedra e ponto: conceito formado, testado e aprovado. Mas...
Árvore tem vida. Agente não a vê crescendo, assim, na nossa frente... Mas que tem vida tem; pois depois de um tempo voltamos a vê-la e ela já não está como a deixamos: cresceu, envergou, ramificou. Mudou.
Na frente da gente não. Mas é só agente sair um pouco que ela já nasce, ou cresce ou envelhece...
Sabe o que é? É que tempo de árvore é diferente de tempo de gente; outro ritmo, outra velocidade. Por que gente que é gente tem que sair correndo, sem raízes, sem tempo...
Gente que é gente voa com a vida, ou o tempo de sua vida até que sem guarida, deixa de ser gente.
E cada vez mais gente não é gente, Perdendo cada vez mais sua gentilidade. Gentilidade? Quer dizer que gente que é gente tem que ser gentil? Ah sim! Gente com bastante gentilidade é gentil!
Legal! Não sabia do parentesco das palavras.
Outro dia vi umas formigas diante de uma imensa árvore dizendo: Árvore não tem vida! E elas se explicavam: Árvore não cresce, árvore não tem movimento. Árvore é árvore, ora.
Quando escutei essa conversa achei engraçado, mas logo percebi:
Tempo de formiga é diferente de tempo de árvore... Pois antes que a árvore mude, o tempo da formiga já acabou – Ela não viu – Por isso achou que árvore era que nem pedra. Opa!? Pensei numa coisa maluca: E se a pedra for pra mim o mesmo que a árvore é pra formiga??
Quando vejo a formiga em sua louca empreitada se preparando pro inverno...
Será que ela é assim por que só tem um verão e um inverno? Coitada. Eu tenho muitos invernos e muitos verões.
Talvez seja por isso que o pai formiga não para pra ver o pôr-do-sol ou ver o filho formiguinha crescer ou ver a flor se abrir. Mas, e eu?
Por que não paro?
Por que é cada vez vejo menos as coisas?
Parece que eu to meio formiga...
Gente com tempo de gente vivendo como se tivesse tempo de formiga. Há! Há! Há! Que engraçado! Mas eu não largo essa folha por nada...
Tenho que ir. Tenho que vir...
...
Ei! E a pedra?
Pois é. Quem disse que pedra não tem movimento?
E se for o caso do tempo dela ser tão diferente do meu que quando ela mudar eu já era?
Vai ver que é por isso...
Acho que estou muito formiga pro meu gosto... Mas é melhor ser formiga que ser pedra. Porque tem gente que ta virando pedra. Pois é: Você vai e vem, entra e sai, leva folha, volta e ele está lá: Todo pedra. Ta louco!
Tem medo de fazer, medo de casar, medo de tentar... Só quer esperar...
Olha. Resolvi:
Não quero mais ser formiga nem pedra, nem árvore.
Quero ser gente.
E gente com tempo de gente.
Gente com tempo pra ser gentil!
Quero minha gentilidade de volta. Recolherei seus cacos onde quer que estejam: No raiar do dia, no pôr-do-sol, no abrir das flores, no uivar dos ventos e no farfalhar das folhas.
Em todos os lugares buscarei:
No canto dos pássaros, no sorriso das pessoas. Até das feias e chatas (as formigonas...).
Buscarei minha gentilidade. Farejarei e então perceberei que em todos esses lugares em que procurei, achei pistas que me conduziram ao nascedouro da doçura, a fonte do amor, a essência de todas as coisas.
Jesus, o filho de Deus!
Olho ao meu redor. Porque raios comecei a pensar nisso?
Não vejo nenhuma pedra.
Acho que já foram todas embora...
E depois dizem que a cigarra que é doida.
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
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