Sabe, quando os filhos crescem...ah se eu pudesse explicar.
Meus filhos hoje são adolescentes que se maravilham e sofrem ao mesmo tempo as dores da maturidade que se aproxima. Crescer só dói mais que neles, quando dói em nós: pai e mãe que assistem as tentativas toscas de vôos iniciais, cheias de possibilidades desastrosas.
Já a algum tempo venho sentindo espasmos de saudades do tempo em que os pegava cada um numa perna, aninhados em meu colo no sofá, e os protegia dos perigos do mundo; tempo em que diante de ameaças iminentes bastava tirá-los do mundo dando-lhes um bom banho no final da tarde, seguido de uma boa bananada de liquidificador servida com biscoitos. No aconchego do nosso cantinho feliz; que mesmo sendo muito humilde apresentava-se bem como o "melhor lugar da vida".
Desde que comecei a sentir essas coisas que venho tentando resgatá-las: um passeio no shopping em família ou uma praia no fim de tarde...não consegui. Quem ia comigo, embora fossem eles meus filhos, já são outras pessoas. Ações e posturas que delimitam claramente a distância que estamos daquilo que sinto falta...
Mas, do que é mesmo que sinto falta?
Sinto falta do tempo em que conseguia protegê-los de sofrer. Sofrer com amores desiludidos, amizades traídas, da dor produzida pelos rigores da vida que, querendo ou não, já os embala mais que meus braços.
Saudades do tempo em que aninhava o Matheus em meu colo e fazia: "Tsi, tsi, tsi...tsi, tsi, tsi" dando levas tapinhas em seu bum-bum e facilmente o acalmava e fazia adormecer; tempo em que a Marília corria desesperada com qualquer coisa que logo perdia o poder de amedrontar, pois rapidamente agarrada a mim, do mundo podia até desdenhar...
Sei que protegê-los disso tudo seria tirar-lhes a vida, pois foi pra vencer isso tudo que eles vieram a vida. Mas como equacionar meu instinto com essa lógica brutal?
Um dia desses cheguei bem perto de suprir minha falta: Eles trouxeram os colchões e dormiram em nosso quarto. Acordei de noite e os vi ali, seguros à nossa volta, ainda nossos filhotinhos tão carentes de nossos cuidados..
Ah, meus filhos, como os amo...
Ah, minha vida, ensina-me a falar-lhes numa linguagem que me compreendam...
Ah, meu Deus querido, me pega em seu colo e me ensina, pois como eles, ainda não sei viver!!